'Precisamos agir rapidamente juntos', diz secretário-geral da ONU na Cúpula dos Líderes
06/11/2025
(Foto: Reprodução) 'Precisamos agir rapidamente juntos', diz secretário-geral da ONU em cúpula pré-COP30
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, criticou o investimento em combustíveis fósseis e afirmou que o mundo fracassou em garantir a manutenção da temperatura global abaixo de 1,5°C em seu discurso durante a Cúpula dos Líderes, nesta quinta-feira (6).
Guterres foi o primeiro a falar no encontro que marca a abertura política da COP30.
👉 AO VIVO: g1 transmite discursos de autoridades na Cúpula dos Líderes
O líder da ONU ressaltou as consequências socioeconômicas do aumento da temperatura do planeta e alertou para a necessidade de uma ação conjunta das nações para que a situação seja minimamente revertida.
"Precisamos de uma mudança fundamental de paradigma para limitar a magnitude e a duração dessa ultrapassagem e reduzi-la rapidamente", afirmou.
Antonio Guterres fala na abertura da COP30 em Belém
Pablo PORCIUNCULA/AFP
➡️Ao longo do discurso, Guterres:
Falou sobre o cenário inevitável de ultrapassar, mesmo que temporariamente, o limite de 1,5°C de aquecimento da temperatura média global, estabelecido pelo Acordo de Paris;
Criticou o uso de combustíveis fósseis, bem como o lobby e os subsídios às indústrias de carvão, petróleo e gás;
Afirmou que os obstáculos para a mudança no cenário climático são muito mais políticos do que tecnológicos;
Cobrou ações mais efetivas de países ricos em direção à justiça climática;
Apelou para que a COP30, em Belém, seja um ponto de virada para a crise climática.
📍g1 na COP30:
Direto de Belém: repórter mostra saga para chegar ao local da Cúpula dos Líderes
Veja abaixo, com mais detalhes, o que o secretário-geral da ONU disse sobre cada um dos pontos.
'Ultrapassar o limite de 1,5°C é inevitável'
Guterres iniciou seu discurso afirmando que as nações fracassaram em garantir que a temperatura global permaneceria abaixo de 1,5°C, como previa o Acordo de Paris.
"Ciência agora nos diz que uma ultrapassagem temporária do limite de 1,5°C – começando, no mais tardar, no início da década de 2030 – é inevitável", lamentou.
Ele alertou que o aquecimento pode levar ecossistemas a pontos de ruptura catastróficos, expor bilhões de pessoas a condições inabitáveis e ampliar ameaças à paz e à segurança.
O chefe da ONU ainda ressaltou as consequências econômicas da crise climática e como os países seriam afetados de maneira desigual.
Ele classificou o limite de 1,5°C como "uma linha vermelha para a humanidade", lembrando que o aquecimento do planeta está acelerando.
"Mesmo que totalmente implementados, os planos climáticos nacionais nos colocariam em um caminho de aproximadamente 2,3°C de aquecimento global", pontuou.
Mundo caminha para até 2,5°C de aquecimento até o fim do século, alerta ONU; entenda
'Combustíveis fósseis continuam recebendo enormes subsídios'
Nesse contexto, Guterres colocou o constante investimento em combustíveis fósseis como um problema urgente.
Ainda que bilhões de dólares estejam sendo investidos em energia limpa, muito ainda se gasta em formas de energia poluentes, segundo o secretário-geral.
"Os combustíveis fósseis continuam recebendo enormes subsídios – dinheiro público – e apoio político. Gastam bilhões em lobby, enganam o público e bloqueiam o progresso", criticou.
LEIA TAMBÉM:
Combustíveis fósseis: a humanidade vai conseguir viver sem eles?
O mundo pode abandonar os combustíveis fósseis? Entenda os argumentos
'O obstáculo não é a tecnologia'
Considerando os crescentes investimentos em uma matriz energética mais limpa, Guterres foi categórico ao afirmar que "o obstáculo [para combater a crise climática] não é a tecnologia".
"Temos as soluções para transformar nossas economias e proteger nossas populações. O obstáculo é a coragem política", criticou.
Ele ainda condenou a quantidade de promessas estagnadas e o lucro de empresas com a devastação climática.
O secretário-geral ainda pontuou que muitos líderes ainda estão presos a interesses relacionados aos combustíveis fósseis, em vez de proteger o interesse público.
'Precisamos agir mais rápido'
Para que a situação seja minimamente revertida, ele cobrou uma ação mais rápida e efetiva, especialmente dos países mais ricos.
"Os países desenvolvidos devem liderar, mobilizando US$ 300 bilhões por ano e honrando seus compromissos — oferecendo financiamento acessível, previsível e na escala combinada", cobrou.
Ele listou algumas medidas urgentes para mudar o cenário:
Acordar um plano ousado para fechar a lacuna de ambição das NDCs rumo a 1,5 °C.
Impulsionar uma nova era energética, baseada em renováveis, eletrificação e eficiência;
Construir redes modernas e armazenamento em larga escala;
Interromper e reverter o desmatamento até 2030;
Reduzir as emissões de metano;
Estabelecer cronogramas de eliminação do carvão alinhados a 1,5 °C;
E encerrar a aprovação de novas usinas de carvão e novos projetos de petróleo e gás.
'Façam de Belém o ponto de virada'
Ao fim do discurso, Guterres desejou que a COP30, em Belém, seja um ponto de virada em direção a um combate mais efetivo da crise climática.
"Os países em desenvolvimento devem deixar Belém equipados com um pacote de justiça climática que garanta equidade, dignidade e oportunidade", pediu.
Ele reforçou a necessidade de se estabelecer um plano concreto para financiamento dessa mudança, buscando um programa de transição energética que coloque a justiça climática no centro.
"Escolham velocidade, escala e solidariedade — agora. Façam de Belém o ponto de virada", finalizou.